Eduardo Ritter
Onde está você, moça do sonho?
Eduardo Ritter
Professor do Centro de Letras e Comunicação da UFPel
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Eu tive um sonho. Ah, que sonho maravilhoso! Quisera eu que você existisse, donzela do meu sonho. Desejei ardentemente que sua voz, seu olhar, suas palavras e seu toque fossem reais. Ah, como ansiava que você fosse verdadeira! Em meu sonho, eu era feliz. Antes disso, como diz Zeca Baleiro, "eu tava triste, tristinho... mais sem graça do que a top model magrela da passarela... tava só, sozinho... mais solitário que um paulistano, que um vilão de filme mexicano!". Entretanto, enquanto meu corpo repousava, eu te encontrei e, sem qualquer intenção, conquistei seu coração, assim como você conquistou o meu. Tudo parecia tão real e maravilhoso que até agora custo a acreditar que tenha sido apenas um sonho. Daria tudo para trocar minha vida por esse sonho tão sublime, pois você, donzela do meu sonho, me fez sentir vivo, enquanto que nesta realidade, o máximo que posso almejar é um dia conhecer você, donzela do meu sonho.
Nos conhecemos por aí, sem nenhum motivo. Apenas andávamos a esmo e quando menos percebemos estávamos conversando. Mesmo no sonho, eu sabia que em um país cheio de malucos como o Brasil eu tinha que demostrar o máximo respeito para não te espantar, e assim fomos conversando e fomos gostando um do outro, tudo muito devagar e muito rápido ao mesmo tempo, afinal, um sonho não dura eternamente. Eu não tinha coragem de avançar e você, garota do sonho, você era tímida. Mas, na medida em que o tempo passava e nossas conversas se afinavam, você passou a me dar confiança e, enquanto andávamos por alguma rua escura iluminada por postes antigos, como se fosse a Paris dos anos 1920 ou a Nova York dos anos 1950, você disse: "vamos dobrar ali, eu conheço uma banca que vende uns livros do car****!". E eu me surpreendi por te ver falar um palavrão, mas ao mesmo tempo fiquei feliz, pois me senti mais íntimo de você.
E então, moça do sonho, você me pegou pela mão para apurarmos, pois a loja estava para fechar, e rapidamente estávamos olhando livros, comentando: "esse aqui é muito bom, você tem que ler!" ou "olha só o que eu achei aqui, um livro inédito do Kerouac publicado em francês!". E cada vez que eu via o seu sorriso, moça do sonho, meu espírito se iluminava e eu apenas conseguia pensar que aquele era o melhor dia da minha vida, mesmo que eu não falasse francês e não entenderia nada daquele livro que você apertava contra o seu peito. Quando nos despedimos, donzela do sonho, um nó apertou a minha garganta e eu fui para casa, ao mesmo tempo angustiado e feliz, tanto é que parei na padaria onde sempre tomo um café e conversei por horas com o padeiro que até então nunca havia respondido aos meus cumprimentos. Eu era o homem mais feliz do mundo, moça do sonho. E, inexplicavelmente, antes de eu me acordar a gente se reencontrou e, dessa vez, sabendo que tínhamos pouco tempo naquele universo fantástico, você me puxou para o sofá e deitamos na frente da lareira enquanto tomávamos vinho entre um beijo e outro e o que aconteceu dali em diante foi a mais pura apoteose carnal e sentimental que duas almas podem experenciar.
Infelizmente acordei e você não estava mais presente, moça do sonho. Tentei lembrar rostos parecidos com os seus, mas eles não existem. Nunca conheci ninguém parecida com você, moça do sonho. E agora sigo aqui o meu caminho, tentando encontrar a minha donzela do sonho que, até agora, existiu apenas na minha dorminhoca imaginação. Tentei cochilar várias vezes tentando te reencontrar, mas nunca consegui. E agora não passo disso, uma alma penada que segue procurando a moça dos seus sonhos.
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